domingo, junho 12, 2011

The Inch

"But it was my integrity that was important. Is that so selfish? It sells for so little, but it's all we have left in this place. It is the very last inch of us. But within that inch we are free. (...) An inch. It's small and it's fragile and it's the only thing in the world worth having. We must never lose it, or sell it, or give it away. We must never let them take it from us."

domingo, abril 24, 2011

Inspiro

A cabeça dói, o mundo roda. Tudo gira, gira e gira, e você está no mesmo lugar.

Mas você está no mesmo lugar.

Pois você está no mesmo lugar.

Pouca coisa mudou, se reparar bem. A sensação é quase a mesma, não importa o tanto de verdades que você possua na bolsa, suas ou de outrem.

Pouca coisa mudou.

O corpo cansado, cansa e mente, que já bastante cansada cansa o corpo. E pensar no cansaço causa tanto cansaço que dói. E começa a descrição das dores.

Numa ordem não de importância, a dor começa na cabeça. Na mente, e na cabeça.

Desce pelo pescoço, bem atrás. Pesa nos ombros como chumbo, passa pelas costas e se fixa na base da coluna, lá onde incomoda quando você senta pra pensar. Mentalmente, a dor se aloja na visão da vida, que roda, roda, gira, e não sai do lugar. Nublando a memória, a dor se deve ao lembrar do que não se pode, ao lembrar do que se foi, e do que nunca poderá ser. É bastante simples, na verdade.

Um nó dolorido na garganta vem de baixo, subindo do coração. Tem lá sua dose de peso nos ombros, mas causa uma dor chorosa embaixo dos olhos, que permanecem secos como o deserto de esperança ausente.

Trabalho feito inutilmente e jamais reconhecido é o que acontece. Todo o seu esforço e paciência..

Esperança inexistente, que gira, roda, anda, e não sai do lugar. Não respira. Morde o maxilar, rígido, quase todo o tempo. Mas nada sai do lugar, mesmo quando parece que tudo se move.

O que existe, no momento, não existe. Não pode existir.

É falso e inacreditável. É nulo, vácuo, por onde o som não passa. Preso na garganta.

O único significado agora é o nada. Nada mais significa. Tudo por nada, tão em vão quanto o ar que circula agora, e que não faz vento. Não faz.

Não vento.

A cabeça dói, o mundo roda. Você está no mesmo lugar.

Expiro.

Tudo outra vez.

domingo, abril 10, 2011

A Arte de Continuar II


O cavalo, coitado, há muito estava perdido. Não havia sobrevivido a todo esse percurso, o pobre animal. Diferente dele. Ele sobrevivia. Até vivia.

Suas botas grossas, de sola emborrachada, respingavam lama marrom para todo lado, e faziam um eco estranho do chacoalhar da água presa em algum lugar dentro delas. A parte de trás da sola, no calcanhar, era severamente mais gasta do que o resto, talvez por seu modo tão singular de andar pelos caminhos.

A velocidade de sua viagem havia sido lamentavelmente comprometida desde que seu cavalo sucumbira a cansaço e fome. Talvez tenha se descuidado do bicho, achando que finalmente estava chegando a seu destino, e falhou miseravelmente ao calcular isso. Havia ficado mais distante ainda. Provável que até impossível.

Mas ele se recusa a desistir, de qualquer forma. Viveu até agora enfrentando, e sim, agüentando, tudo que veio pela frente. Sem temer de qualquer sofrimento que possa ser causado a ele no caminho. Sobreviveu até agora, e até viveu.

Neste ponto da sua busca, o guerreiro parou para encarar essa parte especialmente difícil do caminho, e ficou agradecido aos deuses por seu cavalo ter sido poupado deste mau bocado. À sua frente, um calor que provocava um nó de sofrimento na garganta anunciava o que seus olhos enxergavam com facilidade: um túnel de fogo e carvão; lava escorria de alguns pedaços do terreno e descia até o abismo que completava a paisagem até onde a vista alcançava. Não havia outro caminho. Era cair no abismo de lava ou seguir no túnel de fogo. No fim deste túnel, visível apenas para os olhos treinados, havia... nada. Só via um vazio lá no fim, e sabia então que terminaria sua jornada no nada, se conseguisse terminar.

O raciocínio foi tão rápido que nem pareceu ter acontecido.
Foi fácil decidir o que fazer, afinal, ele seguia em frente implacavelmente há tempos e era bastante experiente nisso. Ensaiou o primeiro passo em frente, já arrastando parte do calcanhar estragado da bota no chão.

O mais difícil, desta vez, foi aceitar que sua jornada não iria terminar com uma vitória. Mas teria que terminar e estava se preparando para pelo menos seguir o caminho vitoriosamente, olhando para frente.

Arrancou um dos botões de cima de sua camisa negra e úmida e logo ia dobrando as mangas. O caminho até o nada seria bastante quente.

Ele sobrevivia. Chegaria lá sem botas e com os pés queimados, mas chegaria. Até o fim do abismo.

segunda-feira, março 28, 2011

So long, So long


O motor do carro roncava quase tão alto quanto a música nos ouvidos do motorista. A música estava bastante alta, e incomodaria qualquer outra pessoa que estivesse dentro daquele carro, se houvesse alguma.

A estrada noturna permitia visibilidade limitada da paisagem, mas ele gostava assim mesmo. Durante a noite, apenas o vento entrando pelas janelas e o som da sua música já eram beleza suficiente, então paisagem nenhuma era necessária.

Era bom demais sentir o vento forte sacudindo sua camisa de botões, leve e solta no corpo. O cabelo curto praticamente não se movia, mas dava pra sentir os sopros passando e acariciando sua cabeça, já fria em função do ar gelado.

A blusa leve, de flanela e com alguns botões faltando, mal protegia do frio. Fazia 7ºC numa noite que ventava, mas ele dobrava as mangas até os cotovelos assim mesmo.

Os braços se moviam pouco enquanto as mãos batucavam levemente no volante ao ritmo leve da música, alternando em imitar piano ou violão.

O avançar da kilometragem das placas indicava a proximidade à uma cidade. Uma leve excitação, acompanhada de uma revirada leve no estômago, começaram a digerir a informação: estava finalmente chegando. Mais de vinte horas dirigindo, com algumas paradas rápidas pra comer, e cochilos de apenas um par de horas no banco de trás do carro. Estava finalmente a poucos kilômetros de lá. Dela.

Como que sentindo o momento, a música seguinte deu um tom de reencontro, e uma leve nostalgia tocava o violão. Ele afinou o rosto numa expressão um pouco séria. O maxilar ficou rígido, esperando a curva terminar.

Todo o barulho de música e motor, pareceu se esvair. Nada era ouvido, nem mesmo o clichê das batidas de seu coração. As mãos firmes apertavam o volante e as sobrancelhas se juntavam lentamente, acompanhando o progresso rápido pela curva, que já parecia ser infinita.

E então a reta finalmente apareceu, o volante voltou para sua posição original e um sorriso se abriu.

A música voltou, mais animadora do que nunca, e até o motor do carro pareceu comemorar.

À frente, descendo mais uns poucos kilômetros, se viam as luzes de uma cidade. Os pontos de luz azulada e amarelada ao longe pareciam estrelas, e ele acelerou de encontro ao seu destino.

Depois de tanto tempo, e de tanta espera, finalmente ele estava chegando. Se aproximando de seu abraço quente e do cheiro maravilhoso que sentiria. Chegando cada vez mais perto do sorriso que o fazia sorrir automaticamente, mesmo quando era apenas uma lembrança.

Gargalhou uma comemoração, parecendo fazer parte da grande sinfonia do momento.

Pisou mais no acelerador ao lembrar do beijo, e então já se sentia em casa.

sábado, março 26, 2011

Through the fire and flames

E então a chama se levantou alto, apontando para o céu escuro, e o mundo começou a girar mais rápido. Esse fogo não pode mais ser ignorado, uma vez aceso.

Era um pequeno carvãozinho, parado ali no seu canto, enquanto o sistema todo funcionava normalmente. Luz e sombras brandiam suas espadas uma contra a outra, caos acontecia, tudo explodia, e a pedra preta inflamável ficava ali. Parada.

E sob a lua, o inexorável resolve que está na hora de mexer nesse sistema por dentro. Está na hora de provar de um novo tipo de caos, aquele que vai testar se todos os anos de aprendizado sobre este mundo orgânico, que é o próprio interior, funcionam na prática. É um novo contexto. Autocontrole no máximo, apitando, palpitando, e a resistência é testada sob pressão catastrófica.

A combustão acontece, então, e o jogo começa. O jogo no qual não se faz idéia de o que seja ganhar ou perder, e a rolagem de dados mostra resultados oblíquos, caindo e equilibrando-se nos vértices, diz apenas que você ainda consegue continuar. E o caminho não pode ser analisado de forma a se saber se está indo pra frente ou para trás. É só um caminho pra dentro, cada vez mais.

Uma vez que o fogo está aceso, nada mais se pode fazer: proibi-lo de queimar o ar e se manter, é pedir que ele fique mais forte; não se pode tentar controlar ou desviar das faíscas que queimam; o fardo agora é o peso de esperar que ele se enfraqueça ou que vire uma labareda poderosa por si só, tomando a decisão de alimentá-lo ou tentar extingui-lo no instante exato, sob o sopro correto do vento frio.

Até lá, rasgue o céu e seja a fênix que você pode ser, por que parte da diversão é ver o fogo queimar o que pode. E fugir não é mais uma opção.

segunda-feira, março 21, 2011

/10

Sua face pasma, com a mão jogada por cima da boca e rugas de expressão na testa, não mentia. Eram tantos pensamentos, tantos exemplos que ele poderia dar. Tantos momentos em que ele se policiou pra não fazer o que não deve e pra não ser exatamente o que era jogado nele agora. Uma torrente de sentimentos passou por sua mente, trazidos pelas lembranças, até recentes, do seu esforço. Mas ele segurou tudo, tentando ficar calado. Queria ver até onde tudo aquilo iria.

Então é isso? É assim que é visto? Olhou pra dentro de si mesmo e procurou respostas. Realmente considerou, por um breve momento, se poderia haver verdade naquilo que era atirado contra ele, na ponta da flecha. Como que encontrada por sua própria mão e exposta claramente a seus olhos, surgiu a resposta: “Não. Esse não sou eu. Esse é exatamente o tipo de pessoa que eu decidi ser o oposto desde que eu tinha quinze anos de idade, ou treze. Essa pessoa, esse não-eu, corrompe e destrói tudo com o que eu me importo. Suja o chão por onde passa e ofende o próprio ar que respira”.