segunda-feira, novembro 12, 2012


Um estalo em seu ombro se fez ouvir e o alertou que a primeira gota de uma chuva grossa finalmente começava seguir seu caminho rumo ao chão. Por um instante ele ponderou sobre rumo, mas outra gota, parecendo querer impedi-lo de pensar, fez questão de cair em seu olho – ecoando pro mundo na forma de um xingamento alto e muito bem-vindo.

Em poucos segundos a chuva já o havia encharcado, mas já não se importava. Era o melhor clima que ele presenciava em dias. Continuou parado como uma estátua, sua sombra, turva por culpa da água e dos trovões que volta e meia faziam oscilar a pouca luz que existia ali, combinava com sua visão. Uma visão turva.

Ele piscava com força, tentando retirar das pálpebras o peso da água e do sono - acumulado devido às severas noites mal dormidas. O corpo parecia mais pesado também e ele sabia muito bem que não era por culpa da sua roupa molhada. Ignorou esse pensamento e arrancou a jaqueta, jogando-a aleatoriamente para a areia que o cercava. Ela caiu pesadamente, acompanhada de um estrondo que anunciava o primeiro trovão do dia. O primeiro de muitos.

Passou a mão pelos cabelos, como se isso fosse deixá-los no lugar. Afrouxou a gravata e abriu o primeiro botão da camisa, enquanto os pés faziam o velho movimento de arrancar os sapatos dali. Pisou na areia daquela praia ainda calçado das meias. Ao longe, algum pássaro corajoso gritou, provavelmente com o esforço de voar naquelas condições adversas - ele pensou. Pensou em gritar algo de volta, talvez uma palavra de coragem para o pássaro guerreiro, mas se contentou em só dar de ombros enquanto se sentava.

Sentou e tudo ficou branco, mas foi difícil se concentrar nisso naquele momento.
A verdade é que, quando um raio cai perto a ponto de toda sua visão ficar branca, você não sabe muito bem se pensa “o que diabos é isso?”, se ouve um estrondo absurdamente alto ou se só se concentra em ficar totalmente desnorteado. A outra verdade – pois não existe só uma – é que ele quase não se apegou ao fato em si, afinal, já havia passado por aquilo antes, e se concentrou em gargalhar à partir do instante em que percebeu que estava acontecendo de novo. Também não se concentrou na probabilidade ínfima de isso acontecer duas vezes com a mesma pessoa, pois estava bastante ocupado se concentrando nas conseqüências daquilo ter acontecido, afinal.

E a conseqüência foi que o tal raio havia atingido um poste atrás e assustadoramente próximo – e um dos poucos que existiam em volta daquela praia em particular – deixando-o totalmente apagado e com uma penca de fios pendurados faiscando. De fato, todos os outros postes em volta se apressaram em seguir o rumo do amigo e logo a praia estava quase que totalmente escura.

E então não se concentrou em mais nada.

Passou de sentado para deitado, ainda gargalhando, e juntou as duas mãos abaixo da cabeça, ensaiando um travesseiro de pouco efeito. Fechou os olhos e agradeceu silenciosamente a ninguém em especial por aquela noite. Não sabia para que tinha ido até aquela praia até este momento, mas agora tudo parecia paradoxalmente claro naquela escuridão.
Um vento repentino soprou o que faltou do seu sussurrado “boa noite”, que ele adormeceu antes de conseguir terminar de proferir.
Precisou de chuva forte, raios, escuridão e vento na cara, mas finalmente conseguiu descansar.

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