domingo, fevereiro 21, 2010

O que é mesmo que se passa?

Por que eu não estou escrevendo?
Era o que eu me perguntava hoje, enquanto ajeitava algumas coisas da casa.
Andava de um lado pro outro com o fone no ouvido, ouvindo lembranças recentes, e pensava nisso.

A conclusão que cheguei: distúrbio psicológico oriundo de distração sentimental orientada à vácuo, totalmente sem motivo, forma, esperança, cor e gosto. Uma doença comum e que te atinge, você querendo ou não, como qualquer outra doença. Que faz você querer todo aquele cuidado especial, como qualquer doença. E que faz você parecer um completo idiota aos próprios olhos. Isso, nem toda doença faz.

É claro que, diante da minha desatual situação, deixar que tal bola de fogo (ou seria de feno?) me atingisse não poderia ter sido uma opção, mas rolar com esta por aí foi. Então não posso culpar ninguém além de mim mesmo, e não permito que culpem.
O fato é que, uma vez rodando nesta situação, não se raciocina direito. Sua razão passa a ser substituída por um algo que geralmente é difícil de identificar. Você tenta escrever pensamentos e teorias baseadas na razão, mas só sai.... isso. Resmungos, reclamações, sob o risco de riscar sua própria, e raramente boa, imagem real.

Você faz metáforas e jogos de palavras, e disfarça o significado propriamente dito do que se quer dizer, mas não diz. Por que já foi dito ou porque não precisa ser dito, e ninguém diz o contrário. E cada vez mais, cada linha que se escreve se embola como barbante, se dá nó, se amarra e quando finalmente você acha que jogou aquilo no ar, puxou a linha e é livre, lá está você: rodando como um peão, pronto pra parar em qualquer lugar, cair, e ser embolado em suas próprias linhas novamente. Talvez em outras mãos, que não as suas.

E percebe que está perdendo o sentido, enquanto escreve. Mas seus sentidos já estão perdidos a muito tempo. Você olha para cada palavra e não vê mais sentido, não vê explicação. Você mal ouve o que escreve, quando deveria estar olhando. E a sinestesia se espalha e atrapalha enquanto você vê o cheiro bom que vem com o vento, respira um gosto amargo e percebe que o que seu tato não vê a hora de tocar, é apenas uma visão longínqua do que ele não pode ter nem ler.

Então você abaixa a cabeça, escreve, e não faz sentidos.
E no fim, quando não está explicado o exato motivo de eu não ter escrito ultimamente, o motivo está obvio e muito bem descrito, embora não escrito. Embora não bem. Embora aqui, e não fácil de se entender, é legível, tangível e próximo.
Em cada dia, vê-se cada vez mais o motivo, e não vê-lo é quase um pecado à própria existência deste. E quando tudo isso passar, ele ainda estará ali, só não será mais o seu motivo.

Ou talvez seja, já que o sentindo parou de se fazer à tempos, largou na minha mão os seus significados e correu. Foi na direção do vento que leva a bola de feno e a de fogo. E só lá, sem escrever, eu tenho feito algum sentido.

3 comentários:

John disse...

Metaliguagem pura, nua e crua, e adorei o nome do marcador.

Míope sem óculos disse...

"Sou eu bola de fogo e o calor tá de matar..."

Andrade Sucupira Filho disse...

A tendência para a literatura está emergindo. Vem lá das raízes. Parabéns, está caminhando muito bem.